sexta-feira, setembro 30, 2005

A cabeça do bebé já foi ao chão algumas vezes
O pai apalpa-lhe o crânio com frequência. E sorri ao não encontrar os relevos da mortalidade.
Os autores católicos inspiram-me à prática da virtude
Os protestantes nem por isso.

quinta-feira, setembro 29, 2005

Salvem os zombies
Os leitores sabem que estimo filmes de zombies. Os leitores também sabem que não estimo filmes de zombies que os comparam aos seres-vivos. E se é verdade que o Dawn Of The Dead de George Romero fez um reset no meu consumo cinematográfico pouco me comove a mui sublinhada crítica à sociedade de consumo que a película faz por se passar num Centro Comercial. Um Centro Comercial vazio é sempre poético quer para Guevaras-sem-curvas quer para masturbadores do cartão de crédito.
Parece que o Land Of The Dead elevou-se à excelência profética pelos acontecimentos do Katrina: os safados dos ricos safam-se e os pobres são mortos-vivos deambulando por destroços urbanos. A glória proletária de Romero é ridícula. Mata no espectador o medo conscencializando-o das adversidades sociais. Por isso a esquerda sempre desprezou o cinema de terror. O medo é coisa de gente religiosa (amén). O homem sem medo está morto, a caminho do Céu ou do Inferno (o purgatório foi a primeira vitória da esquerda na doutrina católica - uma eternidade mais gradual). O cinema não vai valer um tostão na eternidade. Music also.
Entendam, ó gentes de lento entendimento! Os zombies são demónios que possuiram cadáveres. Não mineiros desempregados, não negros dependentes da welfare, não estóicos suburbanos. O pavor está aqui. Romero merece agora ter nos sonsos sociologizantes os seus maiores admiradores.

quarta-feira, setembro 28, 2005

Orare
O Alberto intercede por uma irmã que teve gémeos e que está hospitalizada. A meio da oração diz "fazer filhos é fácil, mais difícil é criá-los". A virtude dos protestantes é também o seu obstáculo: na ausência de rezas fixas pronunciam aquilo que lhes vem à cabeça.
Quando eram perseguidos nos primeiros séculos alguns cristãos viam as línguas ser-lhes cortadas. Parece que o facto de muito cantarem aborrecia os algozes. O cristianismo é a religião da boca solta.

terça-feira, setembro 27, 2005

Um poste kierkegaardiano
O pastor menciona o meu blogue em pleno culto. Temo e tremo.
Karl Barth faz muito bem
Em gastar tempo a distinguir Deus do Homem. Nunca é mal-empregue. Se queremos ser alguém na vida o segredo passa por aqui: ter a percepção clara que essencialmente Deus não tem nada a ver connosco.
Boa notícia
O Pedro está de volta.

segunda-feira, setembro 26, 2005

Morrer em paz
José, filho de Jacob, era um queixinhas. Delatava as asneiras dos irmãos ao pai. A verdade é que ele era também o mais inteligente e ambicioso. Possuia ainda a capacidade de sonhar o futuro. Se o pai o tinha como preferido, os manos queriam rifá-lo. E assim o fizeram um dia: José foi vendido aos egípcios.
No Egipto galgou a escala social em pouco tempo. Escravo, mordomo, presidiário e por fim governador. Uma questão de ética no trabalho (que pressupõe não dormir com a mulher do patrão).
As coisas compuseram-se. José deixou de ser dedo duro e os irmãos arrependeram-se de fazer mau comércio familiar. Jacob, ao ver que a sua descendência havia tomado algum tino, pôde morrer em paz.

sexta-feira, setembro 23, 2005

Batida e conhecimento histórico
Até aos 19 anos vivi convencido que quem rocava não tinha sentido de eternidade. E vice-versa (quem tinha sentido de eternidade não rocava). Actualmente ouso condescender neste optimismo: é possível rocar e ter sentido de eternidade. O que me coloca problemas sociais. São alguns os que não concebem semelhante crença. Cuidando que zelam pelo Credo dos Apóstolos acabam erigindo um bezerro de ouro à falta de ritmo. Outros há que de tanto agitar a cabeça em discotecas esqueceram que o sítio onde melhor se dançou foi no Templo de Jerusalém.
Haja batida e conhecimento histórico.
1X2
Há cristãos que o mais perto que chegam da cruz é através do Totobola.

quinta-feira, setembro 22, 2005

Querido blogue
Hoje acordei uma dona de casa. Despertei, tirei o bebé da cama, dei-lhe o biberão, mudei-lhe fralda, vesti-lhe a roupa (esta parte faço diariamente), levantei dinheiro no Multibanco, fui à mercearia e mudei a terra às gatas (usando uma folha do Caderno de Economia do Expresso para forrar o caixote).
Falta deixar a criança nos avós, o almoço com os amigos no Medeia do Saldanha, ir para a Igreja, as aulas de guitarra, a reunião com o Conselho Pastoral, o culto de estudo bíblico e oração e uma perninha no skate em Santo Amaro.
Adoro as quintas-feiras.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Doutrina V
Colocar as obrigações religiosas à frente dos esclarecimentos políticos (pessoal, Noites À Direita amanhã no Teatro S. Luiz é mentira - tenho reunião de oração na minha igreja).
Doutrina IV
Para tocar panque-roque não vale a pena perder muito tempo em testes de som.
Doutrina III
Ler um pouco de tudo mas entender que nada chega aos pés da Carta aos Romanos.
Doutrina II
Como a Jamie Lee Curtis no Halloween de John Carpenter, matar o assassino e virar-lhe as costas. Quantas vezes for necessário.
Doutrina
Não há sarça ardente no Jardim Botânico. Descalça as sandálias, Moisés!

terça-feira, setembro 20, 2005

A perspectiva de Golias
É duro acabar a vida de cabeça perdida nas mãos de um guardador de rebanhos que nos tempos livres se dedica à harpa. Ainda hoje os filisteus não suportam o cheiro intenso a lã, o cheiro intenso a lã.

segunda-feira, setembro 19, 2005

From the man who killed Goliath
Imitar David em tudo. Excepto no hábito de espreitar as mulheres dos outros no banho.

Chegar-se à frente. Manejar a funda. Decepar.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Sermonizar por aí
Amanhã vou estar num evento para jovens evangélicos a dar uma palestra sobre "comunicações virtuais e a sua marca geracional no contexto da cultura juvenil contemporânea". Apresentam-me como músico, pregador e autor do Blog "A Voz do Deserto". Não me parece mal. Uma espécie de Padre António Vieira on wheels.

quinta-feira, setembro 15, 2005

Enrole
Miguel Ângelo, o homem que fica bem odiar na música portuguesa (como se nos últimos 15 anos tivesse aparecido uma mão cheia de bandas mais relevantes que os Delfins), tem um bar em Cascais. Chama-se Lótus e vai ter roque no próximo Sábado.

quarta-feira, setembro 14, 2005

Ana Drago na SicMulher
Muito mal iluminada. Os senhores das luzes deviam ver o olho da rua. Um rosto em sombras sob décor de bolinhas cor-de-rosa. A claridade abate-se sobre o nariz apenas. Mais do que inestético, injusto.
For the record
Gravei um disco a uns amigos. Três vibrantes adolescentes. Chamam-se Os Pontos Negros e tocam roque-enrole com redentora emoção. Às vezes faz lembrar Buzzcocks, outras Strokes. Usei o 4 pistas: duas para os instrumentos em ensemble e duas para as vozes. Foi o suficiente. São 20 minutos animados. Têm letras, que eu só colaboro com empreendimentos musicais em que as letras tenham um papel decente. Ética protestante e impulso calvinista.

terça-feira, setembro 13, 2005

Os blogues do Brasil estão mais perto de Deus, exemplo 2
"Quem usa Jesus e não se deixa ser usado por ele é um Judas. Judas era um cristão de resultados" - Pró Tensão.
Os blogues do Brasil estão mais perto de Deus, exemplo 1
"Mulheres excessivamente encantadas com o quanto é bom ser mulher parecem ter sido criadas por uma matilha de travestis. Agarram um estranho pela lapela no metrô, confessam quantos abortos fizeram." - Miss Veen.

segunda-feira, setembro 12, 2005

Gólgota
Nos últimos tempos, a seguir a conseguir escrever um livrinho bastante reaccionário sobre os prejuízos causados pelos Séculos XIX e XX, anda a apetecer-me ser o Keith Richards. Com anéis de caveira e tudo.
Pelos frutos os conhecereis
Há pessoas tão ruins que nem com Jesus à mesa servem uns cajuzinhos.

sexta-feira, setembro 09, 2005

A palerma cancerosa
A palerma cancerosa foi ao Maná ver se arranjava um milagre. Não resultou. Hoje está numa Igreja Baptista, denominação religiosa conhecida por ser comedida e com raízes históricas mais profundas. Lá a palerma cancerosa e o marido, especialmente o marido, dão o testemunho: foram enganados pelos malandros lacaios do Pastor Jorge Tadeu. Os Baptistas que os ouvem, pelintras ao ponto de esfregar a história da palerma cancerosa na cara dos outros, saem de auto-estima elevada.
A palerma cancerosa é duplamente palerma. Foi palerma no Maná e mais palerma é fazendo queixinhas à nova congregação. Tornou-se uma Baptista de pleno direito. Da pior espécie: recalcada, interesseira, palerma e cancerosa.
Se levássemos até ao fim a linha de argumento da palerma cancerosa rapidamente concluiríamos que Eva foi enganada pela serpente e que a doutrina da Queda é uma violenta repressão às boas intenções de todos os palermas cancerosos do mundo.
O cancro é uma coisa séria. Os palermas é que nem por isso.
Cadentes
Johnny Rotten tem razão. Pela paz mundial o Bono anda a esmagar os testículos em calças de cabedal apertadas. Não nos merece grande respeito semelhante filantropia.
O mesmo se aplica a Sean Penn. Vagueia por Nova Orleães a resgatar vítimas do furacão. Levou o seu próprio barco mas logo a seguir afundou.
Estrelas fora do firmamento sempre foram perigosas para a crosta terrestre.

quinta-feira, setembro 08, 2005

Leituras II
Por vezes os Salmos dão-nos a impressão que pior que a falta de virtude é a falta de memória.
Leituras
Rilke escreve que Deus tem mais paciência que força.

quarta-feira, setembro 07, 2005

Receber um livro pelo correio é tão excitante
Que chego a ter pena de me desfazer das caixas de cartão.
Acabadinhos de chegar pelo correio
"The Four Loves" de C.S. Lewis, "Epistle To The Romans" de Karl Barth, e "The Devil's Dictionary" de Ambrose Beirce. Dois livros santinhos e o terceiro para alivar tanta virtude junta.
É um hábito protestante
O de orar antes da refeição. Assim o fizemos durante uma semana em casa de amigos. À mesa alguns não conheciam a prática. Uns dias depois houve quem quisesse arriscar. Agradeceu a Deus pela comida e pela amizade. Estava comovido e ofereci o amén mais vigoroso que me foi possível.

Para a Joana.

terça-feira, setembro 06, 2005

Penas Capitais
Se Deus fosse marxista os judeus não teriam andado perdidos no deserto durante 40 anos. Até os oprimidos podem ser castigados pela mão divina. A luta de classes não foi argumento suficiente para impedir o Senhor de afligir aqueles míseros escravos recém-libertados.
Proletários de todo o mundo, desiludi-vos!

segunda-feira, setembro 05, 2005

Vidas ameaçadas
O Cineclube de Terror de Lisboa anda a fazer serviço público. Este Setembro na Cinemateca é Anno Domini - Ciclo de Zombies.
Uma nota de pesar sobre o último Romero (Land Of The Dead): antropomorfizar os mortos-vivos para além de um retrocesso cronológico é pateta. Ninguém no seu juízo quer saber de monstros com sentimentos. Como o meu amigo Paulo diz e bem esta nova multidão de zombies está ao gosto do Bloco de Esquerda - apenas procuram um sítio para viver em paz, os coitadinhos. Balázios nas têmporas, filhinhos, balázios nas têmporas. Mantenham as mais decentes tradições vivas.
O cinema não pode esgotar a última hipótese de se redimir. Que se especialize no medo que é para isso que se apagam as luzes. Já basta a pornografia ter-se tornado na mais aborrecida aula de ginecologia dos últimos tempos.

sexta-feira, setembro 02, 2005

Compacto Voz do Deserto Férias de Verão
- Casei uma irmã com um brasileiro. Ando bastante ecuménico, I must say.

- Num acampamento baptista uma criança de seis anos olha para um rapariga africana e diz que "é preta". Depois acrescenta em jeito de relação causal: "é feia". Digo-lhe: "tu é que és feio. És louro e isso não tem jeito nenhum". Ele dá-me o troco: "e tu usas brinco e isso é de menina". A conversa não tem pernas para andar.
Não vale a pena falar com demónios.

- Pratico desporto. Basquetebol é sexo. É imperativo não mostrar sinal de esforço. O desporto não é a estiva. Marcar é apenas uma desculpa para poder continuar a jogar. Entre um falhanço com estilo e um ponto sem ele é sempre preferível o primeiro. O suor pode até ser necessário mas arduamente se torna desejável.

- Passo duas semanas privado do uso do bidé. Uma afinidade que partilho com as prostitutas francesas, segundo consta. Facto semi-aceitável: o lazer pressupõe concessões no conforto. Facto inaceitável: o relativismo cultural é uma desculpa para tomarmos banho menos vezes. Não sendo um apóstolo da higiene apraz-me o frio da louça entre as pernas. Especialmente antes da caminha. Basta.

- Uma semana em casa de amigos (com bidé). Acontece o inevitável. A mulher do casal diz-me: "és insuportável". Explico-lhe que a minha idade mental está nos 62 anos. Que poderia ser pior. Mais três e começo a relaxar.

- Experimento uma estupenda estupeta. Parece carninha mas é atum. Mete-se gelo em cima para manter o prato fresco. Os algarvios não brincam em serviço.

- Nunca serei um skater decente. De qualquer modo já consigo sacar ollies da altura de um palmo. Os homens não se medem assim, não se esqueçam.

- Deixo crescer a barba almejando o patamar Variações. Não sucedo. O homem podia ser maricas mas tinha-a rija. Aqui o heterossexualzito tem-na de adolescente.

- Verdade: aos jovens católicos que foram à Alemanha ver o Papa (mau sítio para ver o Papa - sinal dos tempos?) falta estilo. Um pouco do charme discreto dos subúrbios no qual os evangélicos são prósperos. Mas o que aborrece de morte os críticos destas jornadas é o facto de ser possível juntar mais de um milhão de gente nova sobre outra inspiração que não o sex, drugs and rock'n'roll.
O Maio de 68 não tolera o Agosto de 05.

quinta-feira, setembro 01, 2005

De volta
Um mês sem blogues (meu querido mês de Agosto). Ouço falar em crise na blogosfera. Ó gente sem emenda! Em verdade, em verdade vos digo, que a virtude da blogosfera está em ser um espaço de crise. A Voz do Deserto é o ecrã da minha crise pessoal, a minha mais bem sucedida aventura. Conforto-me com o pensamento que um dia ganharei dinheiro à custa disto. A minha mulher agradece e o ciclo fechar-se-á em plenitude.
Amanhã há Compacto Férias de Verão.
Gostar de homens VI
George Romero.

Estreia hoje o Land Of The Dead. Bendito regresso às aulas.